quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Nega Gizza

"pow essa letra é o q lig a parceiros!! pow nega gizza tem um trabbalho de mil grau memo
pow essa mina bem pra caraio fika na fé manow"

"esse som é a pura realidade que rola nas quebradas"

"Ela RAP muito bem mesmo...África contigo Nega G ;-) "

"não tem pra ninguem, Rap consciente refrão bolado faz parar pra pensar, valeu nega vc representa o rap nacional"





Gisele Gomes de Souza nasceu em Brás de Pina, subúrbio do Rio de Janeiro. Filha de empregada doméstica, aos sete anos, vendia refrigerante e cerveja com seus irmãos no Centro do Rio. Mesmo tendo parado de estudar na sétima série, por não conseguir conciliar o trabalho com os estudos, Gizza sonhava em ser jornalista. Aos 15 anos, quando escutou um programa de rap pela primeira vez, identificou-se imediatamente com o estilo. Após a perda de seu irmão, Márcio, morto pela polícia aos 27 anos, MV Bill a “adotou” como irmã, convidando para participar de sua banda como backing vocal. Entre 1999 e 2000, a rapper foi a primeira locutora de uma rádio de rap, no programa Hip Hop Brasil, da Imprensa FM. Em 2001, Gizza venceu o Prêmio Hutúz - o mais importante prêmio de rap da América Latina - na categoria de "melhor demo de rap". Seu primeiro CD conta com um time de primeira na produção: Zégonz (o DJ Zé Gonzalez, do Planet Hemp, que também trabalhou com Xis), DJ Luciano, Dudu Marote (dono do selo Muquifo Records), MV Bill, Gustavo Nogueira e Daniel Ganja Man (do coletivo Instituto, de São Paulo).


Em Na Humildade, CD lançado em 2002, Nega Gizza veio mostrar que as mulheres também podem ter espaço num mercado dominado por rappers do sexo masculino e sua voz forte pode abrir os caminhos para toda uma nova geração de novas vozes femininas. Ainda no mesmo ano lançou seu primeiro videoclipe, Prostituta. Dirigido por Kátia Lund e Líbero Saporetti e com fotografia de Ricardo de La Rosa, o clipe denuncia a realidade da prostituição no Brasil. Esteve em Cuba com Kátia Lund, registrando imagens e depoimentos para a produção do documentário "Fab, Hood e Pablo", que fala sobre rappers do Brasil, Estados Unidos e Cuba, ainda não finalizado.


Em 2003, recebeu o Prêmio Orilaxé (Grupo Cultural Afroreggae) como melhor cantora. Assim como MV Bill e o produtor Celso Athayde, Nega Gizza é uma das fundadoras da CUFA (Central Única das Favelas), uma organização não-governamental cuja forma de expressão predominante é o hip hop e que visa promover a produção cultural das favelas brasileiras, através de atividades nos campos da educação, esportes, cultura e cidadania. Nela, jovens de comunidades produzem videoclipes, documentários, shows, além de participarem de oficinas que trabalham com elementos desta cultura. Gizza também é uma das produtoras do Prêmio e do Festival Hutúz.


A seguir, trechos de uma entrevista de Nega Gizza ao blog Porradão, de Celso Athayde.

Quem é Giselle Gomes Souza? Existe diferença entre a Giselle e a Nega Gizza?

Sou nega gizza , nasci na favela 5 bocas , perdi um irmão no trafico.  Fui evangélica e lá comecei a cantar. Passei pelo charme , rádios comunitárias e hoje to aqui , apostando nesse canhão chamado cufa e organizando todos esses momentos do passado para projetar o futuro. 


O que é o rap na sua vida?

Meu encontro com o rap foi muito importante, ele me mostrou muitos caminhos, criar a cufa foi um passo a frente , foi reconstruir o rap que eu conheci, saindo dos discursos e praticando o que as letras falam. O rap foi e é importante, mas precisamos ir muito além dele se queremos realmente fazer revolução.


Qual o peso de ser considera umas das mais importantes rapper do Brasil? 

Pouco Peso, se importante no rap não é muito pra mim, claro que é importante ser respeitada até na minha rua , na minha casa enfim, em todos os lugares . Semana passada recebi em Brasilia um prêmio de Valorização da Vida, ou seja, isso que eu busco na minha vida, me completo alterando a lógica no mundo real . 


Qual a posição da mulher em um mercado quase que dominado pele sexo masculino? O que a mulher deve fazer para se afirmar? 

Não se trata de ser mulher ou homem, a questão é adotar uma postura de seriedade e compromisso. Precisamos parar de pensar no universo do rap, hip hop, como um campo de batalha entre sexos. Somos um conceito e um sentimento de transformação. O que me afirma é a minha postura diante dos meus ideais e minha luta. Nossa luta. 


Como você analisa a situação atual do rap no Brasil ? Haveria uma saída para a estagnação que domina a cena do rap nacional? 


Saída sempre há, se não tivesse a gente desistiria. Mas se a prática se desvincular do conceito, da sentido do rap, fica complicado. A música é arte, sim, é liberdade sim. Mas o rap tem em sua origem um trabalho transformador, porque deixar isso perder a força? Coloco essa proposta na roda, vamos pensar o rap de fato? Entender o que estamos fazendo, já é hora disso faz tempo.


Há quantos anos você atua no cenário social? O que mais te marcou durante esse tempo?

Nossa!!!! Acho que nasci dentro disso. Tirando os anos que não sabia falar acho que todo a minha vida foi dedicada ao social. Muitas coisas me marcaram, o começo da Cufa, o momento que ela ganhou força para crescer e ver nosso frutos abrindo seus espaços no mundo, o lançamento do documentário Falcão. É difícil destacar um momento. Nossas vitórias muitas vezes são internas, fazem parte do nosso dia-a-dia, de um jovem sem rumo que conseguimos resgatar às conquistas de novas parcerias.

Quais foram as principais dificuldades que você sentiu no começo de sua carreira dentro do Rap ?


Dificuldade para mim é estímulo. Eu queria estar fazendo o que estava fazendo. Então não se trata de dificuldade. Talvez ver que a não-condição de vida de jovens cariocas se igualam a de jovens de todo o Brasil, tenha sido uma grande dificuldade, saber que as drogas e a violência dominam a vida desses meninos. As mesmo tempo que isso abate esse é a força para a mudança.


O que é a CUFA na sua vida ?  


A cufa é meu dia a dia , é o ar que eu respiro, não só pelo prazer de trabalhar formalmente na cufa , mas sobre tudo por ver a mudança real na vida das pessoas. A cufa é a maior potencia que eu conheço.


Hoje em dia há varias letras de Rap e de Funk que relacionam mulher com sensualidade e sexualidade, você acha que esse tipo de letra desmoraliza as mulheres no meio musical?


Como eu já falei em outra resposta, o que te faz alguém, isso ou aquilo é a sua atitude e comprometimento com a sua verdade e seu ideal social ou de vida. Porque eu vou admitir que uma música desmoraliza as mulheres. Não são boas letras? Pode ser que não. Mas cada mulher deve saber o valor que ela tem e se posicionar diante disso. Não pode ficar aceitando tendências culturais, ou seja qual for, quem determina o que nós somos? Uma letra de música bem ou mal escrita? Faça sua escolha.



Recentemente você gravou com o Rapper argentino Emanero uma música chamada " Lluvia poetica" ("Chuva poética"), como foi pra você esse contato internacional?

Foi uma experiência bacana , sobre tudo pq eles são amigos e são da cufa no pais deles , a musica Serve pra isso , a cufa serve pra isso , para unir o mundo em torno das coisas boas...


O que mudou da Nega Gizza do início da carreira para os dias atuais? 

Hoje eu sou mãe de dois filhos, me sinto mais responsável e mais forte. Mais consciente do lugar que estou e da necessidade dos meus filhos Tenho mais experiência sobre as necessidades dos jovens, crianças, das questões do Brasil, do rap e da mulher. Cresci. Aprendi e continuo em frente. . 


O que significa para você fazer parte do movimento hip hop?

Significa a minha vida. Significa saber onde estou e porque estou. Conhecer a periferia, a favela, estar na periferia e ter isso dentro de mim. É entender as condições que crescemos, a forma como pensamos e nos desenvolvemos, pensar mudanças. É passear, interagir com os elementos e recriações das artes do hip hop, é criar cada dia uma forma nova de me comunicar com o movimento, compreender as necessidades e atender. Aprender e ensinar.



Você pretende encarar uma carreira política? 

Todos nós fazemos política. Ainda não pensei nisso oficialmente. Mas o que eu faço dentro da Cufa já é um trabalho político e de grande força. Nós brasileiros precisamos mudar a maneira de pensar a política no nosso país, eu sei que é complicado, temos notícias de corrupção todos os dias na capa dos jornais, na internet, rádios e em todo lugar. Mas não devemos abandonar a luta política, fazer política é organizar e administrar uma nação. Se pensarmos na nossa casa como uma nação é quase a mesma coisa. Não adianta taxar todo mundo de corrupto e cruzar os braços, sem partir para luta. Ficar parada é aceitar simplesmente e isso não é comigo.


Recentemente, o Estadão, publicou uma matéria dizendo que o rap está em crise? O que você acha disso? 

Já respondi isso anteriormente. Convidei a todos nós a discutirmos o rap e entendermos o que ele representa para nós. Qual rap que está em crise?Tem gente que curte o rap pra dançar, pra curtir, pra rimar por rimar. Tem gente que curte rap para misturar, sem problemas. Mas e nós? Que rap nós queremos fazer? Essa é a pergunta. Faça a sua proposta e persiga no seu comprometimento.



Você diria que é feminista? O que você acha do movimento feminista da década de 60 que refletiu nas gerações seguintes e como você entende o comportamento das mulheres hoje? O que mudou? O que sua geração recebeu de bom dessa época e de ruim? 

Minha geração recebeu direitos e liberdade, minha geração recebeu possibilidades e mudança no cenário, político, empresarial e social para a mulher. Minha geração recebeu também desorientação sobre o que é ser mulher e sobre se aceitar como mulher. Minha geração se confundiu com os homens e anda achando que eles são nossos opostos. Não acho isso. Acho que somos diferentes mas não opostos. Lutar por liberdade para confundir com perda de controle, pra que? Seria uma luta em vão. Não temos que lutar contra, temos que lutar a favor.

Se ser feminista é lutar ou defender o discurso de uma vivência mais igualitária nas questões relativas a gênero, sim eu sou.


Quais foram os planos que você fez para sua vida? Quais deram certo e quais não deram certo? 

Minha família deu certo Meus filhos. A Cufa deu certo. Minha carreira está dando certo. O que não deu certo? É passado. Não tenho que chorar derrotas. Tenho que partir pra frente, pra realização. 


Faça uma definição sobre o rap que você produz e fale um pouco das suas influências musicais dentro e fora do rap. 


O rádio é uma influência para mim, a força da mulher, a superação, a minha vida e a vida das pessoas. As vozes femininas são influências para mim. A música do gueto, o canto da igreja, as vozes graves e fortes. As músicas brasileiras. O samba, samba rock. e principalmente a observação, das pessoas, da intensidade ou fraqueza delas. Os homens do rap também são forte influência do meu rap. 

O rap é o que eu vivo, não é separado dela. É uma coisa só.



Pra mais informações, tem o site dela: http://www.negagizza.com.br/

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