quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Anita Malfatti


Anita Malfatti nasceu em São Paulo, em 1889, com atrofia no braço e na mão direita, deficiência que carregou por toda a vida. Sua governanta inglesa a ajudou a desenvolver o uso da mão esquerda para pintar e escrever. Ainda na infância seu pai morre, e a mãe passa a dar aulas de pintura para sobreviver. Foi com ela que aprendeu o básico do ofício.
"Eu tinha 13 anos, e sofria porque não sabia que rumo tomar na vida. Nada ainda me revelara o fundo da minha sensibilidade[...]Resolvi, então, me submeter a uma estranha experiência: sofrer a sensação absorvente da morte. Achava que uma forte emoção, que me aproximasse violentamente do perigo, me daria a decifração definitiva da minha personalidade. E veja o que fiz. Nossa casa ficava próxima da educada estação da Barra Funda. Um dia saí de casa, amarrei fortemente as minhas tranças de menina, deitei-me debaixo dos dormentes e esperei o trem passar por cima de mim. Foi uma coisa horrível, indescritível. O barulho ensurdecedor, a deslocação de ar, a temperatura asfixiante deram-me uma impressão de delírio e de loucura. E eu via cores, cores e cores riscando o espaço, cores que eu desejaria fixar para sempre na retina assombrada. Foi a revelação: voltei decidida a me dedicar à pintura."
Seus planos incluíam estudos em Paris, mas a situação financeira lastimável da família não permitiu. Foi então financiada pelo tio para acompanhar suas primas à Alemanha, em 1910. Lá entrou em contato com o grupo de vanguarda Die Brucke. Teve como mestres os impressionistas Fritz Burger, e posteriormente Lovis Corinth.


Devido à guerra, as garotas tiveram que voltar ao Brasil, mas não sem antes dar um pulinho na tão sonhada Paris. De volta à Sampa, em 1914, Anita montou sua primeira exposição individual, ao 24 anos. Seu objetivo era conseguir uma bolsa e voltar a viajar, mas por causa da guerra não deu muito certo. Então seu tio novamente financiou sua viagem, dessa vez pra terra do Tio Sam.

"Fui aos Estados Unidos, entrei numa academia para continuar meus estudos, e que desilusão! O professor foi ficando com raiva de mim, e eu dele, até que um dia, a luz brilhou de novo. Uma colega me contou na surdina que havia um professor moderno, um grande filósofo, incompreendido e que deixava os alunos pintar à vontade. Na mesma tarde procuramos e professor, claro"
Aí começa o período maravilhoso de minha vida. Entrei na Independent School of Art de Homer Boss, quase mais filósofo que professor.(…) O maior progresso que fiz na minha vida foi nesta ilha e nesta época de ambientes muito especiais. Eu vivia encantada com a vida e com a pintura (...). Era a poesia plástica da vida, era festa da forma e era a festa da cor" 
Rochedos, 1915. 

 A Ventania, 1917.

A Onda, 1917. 

O Farol, 1915. 

O Barco, 1915. 

A Estudante Russa, 1915. 

O Homem de Sete Cores, 1916. 

A Boba, 1916. 

A Mulher de Cabelos Verdes, 1916. 

O Homem Amarelo, 1916. 

Uma Estudante, 1916. 

 Ficou dois anos por lá, voltando em 1916 pro Brasil, cheia de novas telas. Ao mostrar o trabalho para a família, a recepção foi fria. Ninguém gostou daqueles quadros duros, fortes, estranhos. Estavam todos esperando uma pintura acadêmica, quadros de santos. Bem, quebraram a cara. Seu tio, que financiara suas viagem, disse: "mas isso não são pinturas, são coisas dantescas!"
"Então, pela primeira vez em minha vida, comecei a entristecer-me pois estava certa de que meu trabalho era bom; tanto os modernos franceses como os americanos haviam dito espontaneamente, desinteressadamente. Só desejei esconder meus quadros, já que, para me consolar, ou outros acharam que eu podia pintar como quisesse. Eles estavam desconsolados, porque me queriam bem. Entretanto eu sabia que aquela crítica não tinha fundamento, especialmente porque estava dentro de um regime completamente emocional. Eu nunca havia imitado a ninguém; só esperava com alegria que surgisse, dentro da forma e da cor aparente a mudança; eu pintava num diapasão diferente e era essa música da cor que me confortava e enriquecia minha vida." 
Então Anita montou uma outra exposição individual em 1917. No primeiro dia tudo correu bem, vendeu até 8 quadros. Mas daí o Monteiro Lobato publicou uma crítica no jornal O Estado de S. Paulo, criticando Anita, dizendo que ela tinha se deixado influenciar por Picasso e sua turma. No dia seguinte as telas compradas foram devolvidas e todo mundo passou a atacá-la nos jornais. O primeiro a defendê-la foi o Oswald de Andrade, seguido depois pelo Mário de Andrade, Menotti Del Picchia e Guilherme de Almeida.

Anita, Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade.

Mário de Andrade I, 1922. 

Fernanda de Castro, 1922. 

Chanson de Montmartre, 1926. 

Mulher do Pará, 1927.

La Rentrée, 1927.

Então 1922 chegou, e Anita participou da exposicão da semana de arte moderna com 22 trabalhos, entrando de vez no círculo modernista. Em 1923 faz uma viagem pra Paris, onde permanece por 5 anos, estudando e produzindo. Volta em 1928, e em 29 abre sua quarta individual. A seguir, passa a lecionar.

Anita sentada, junto com alunas

Nos anos 40, depois da morte de sua mãe e de seu grande e amado amigo, Mário de Andrade, Anita se recolhe em sua chácara em Diadema, onde viverá reclusa até sua morte, em 1964.
"É verdade que eu já não pinto o que pintava há 30 anos.Hoje faço pura e simplesmente arte popular brasileira. É preciso não confundir:arte popular com folclore…[...]eu pinto aspectos da vida brasileira, aspectos da vida do povo. Procuro retratar os seus costumes,os seus usos,o seu ambiente. Procuro transportá-los vivos para as minhas telas. Interpretar a alma popular[...]eu não pinto nem folclore, nem faço primitivismo. Faço arte popular brasileira"
As Duas Igrejas, 1940. 

Cambuquira, 1945. 

Itanhaém, 1949. 

 Samba, 1945.

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